quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sam The Kid - Não Percebes

O HIP-HOP SÓ SERVE PARA INCITAR À VIOLÊNCIA, AO CRIME E À DELINQUÊNCIA. O HIP-HOP PORTUGUÊS É SÓ GAJOS COM A MANIA QUE SÃO GANGSTERS... NEM SEQUER É MÚSICA, NÃO HÁ INSTRUMENTOS!

ok, os haters e preconceituosos já se foram embora? Já consegui filtrar esse pessoal? Já posso falar sobre o meu tema sem qualquer problema? Nice. Hoje vou falar de Hip-Hop Tuga, centrando-me principalmente no meu intérprete preferido do género. Escrever este post, faz-me recuar para a minha pré-adolescência, nos meus tempos de 8º ano, quando eu fartava-me de ouvir hip-hop tuga. Sim, são só uns gajos a rimar, com um vocabulário meio sub-urbano, com uns beats por cima. Poetas é aquela típica descrição que vem à baila. Exagerada ou insultuosa para os verdadeiros poetas? Muito provavelmente. Mas vejo muito poucos a exprimir sentimentos e contar histórias com o uso de anáforas, metáforas, aliterações, assonâncias ou hipérboles com a qualidade como o Sam The Kid o faz.


Não acho que precise de apresentações. Todos conhecem o Sam The Kid, o puto de Chelas que faz umas rimas já há muito tempo e não é nenhum rookie nisto do hip-hop. Pensa-se em hip-hop tuga e fala-se em Samuel Mira. Três álbuns de rimas: Entre(tanto) em 1999, Sobre(tudo) em 2001, Pratica(mente) em 2006; e um álbum de beats dedicado aos pais (e que álbum!): Beats Vol. 1: Amor.
Antes de mais um reparo: eu não concordei com tudo o que o Fernando Pessoa, Camões ou Florbela Espanca me disseram (e não, não estou a comparar. acalmem a passarinha!). Tenho a certeza absoluta de que vocês também não. As vivências e os tempos são outros e é impossível identificarmo-nos com tudo. Isto é muito na base do que eu disse no artigo dos Rage Against The Machine. Agora apliquem o mesmo neste que vos falo. Eu não concordo com a Poetas de Karaoke. Desculpa Samuel, mas que dramatizas demasiado a questão, apesar de neste momento ouvir maioritariamente bandas nacionais que cantam na nossa língua. No entanto, quando ele começa a música com uma pura verdade - rappers de hoje em dia são como a pornografia, nem todos dão tusa porque há uma oferta em demasia! - também me dá vontade de pegar de assalto uma rádio como ele faz no videoclip. E finaliza com uma fantástica metáfora: Vocês fazem turismo de emoções que todos sentem. Eu faço culturismo de expressões que todos sentem! Que eu sinceramente espero não ser o único a achá-la brutal... Como também espero não ser o único a achar O Recado - música do segundo álbum - uma metáfora genial e uma história muito bem contada.


Nunca vi um artista a evoluir tanto e esse facto ser tão pouco referenciado. Ouve-se o primeiro álbum do Samuel e é bom, ouve-se bem. Ouve-se o segundo e já se torna audição regular. Ouve-se o terceiro e é para mim uma obra-prima. Os beats estão melhor do que nunca, com o Samuel cada vez melhor no seu MPC. Em cada música encontra-se um verso, um momento, um som memorável. É um dos melhores álbuns que já ouvi e está na minha lista de Natal para este ano. Um álbum onde explica o seu amor pela arte de mixar sons em À Procura da Perfeita Repetição, onde a rima eu oiço temas e temas feitos antes do meu nascimento, diz-me outra arte que te dá maior conhecimento resume perfeitamente a sua opinião e uma picardia ao Vitor Espadinha sabe que nem ginjas, que o meteu em tribunal por uma simples frase sua dita num programa que o Sam aproveitou. Explica o porquê de ser um apolítico em Abstenção, com frases geniais como: Comecem de inicio, de novo, alterem e tirem o sacrificio do povo, E eu devolvo a indiferença para foder partidos e blocos, eles é que tão em alta e nós aqui a contar trocos!. Denuncia o elevado desemprego e justifica a sua condição de viver com a mãe em Negociantes, que tem tiradas tipo Não quero a vossa redenção e tirem-me esta retenção na fonte. E qual é esta fonte? É a fonte do vosso banco, para gastarem numa emigrante do Elefante Branco?. E expõe o poder do destino com a fantástica e brutal 16/12/95 que, entre muitas, tem a excelente metáfora: fomos à lua e nem vimos Vénus, que acho que não preciso de explicar porque vocês não são burros.


OK, ainda não gostam de hip-hop, tudo bem. Rimar não chega para vocês e é preciso algo mais. O Samuel tem. Para além do fantástico beat dedicado ao Carlos Paredes na música Viva!, em Beats Vol. 1: Amor, inspirado pelo amor dos pais, mostra todo o seu poder em termos de produção de beats. Um álbum que se mete a tocar e o ambiente fica logo relaxado e chillout. É outra obra prima, feita em 2002, que iguala-o a muito bons produtores de hip-hop, com um décimo das condições. Recomendo vivamente, mesmo que não gostem de hip-hop. Para quem saca com torretz, podem usar este link.

O puto Samuel até quando participa em músicas dos outros o protagonismo é dele. Na Tuga Night do Boss AC, rimas como E esta porta não se abre, para um repórter que não sabe, mas é eleito para escrever e sublinhar os defeitos. Isto não é States, grandes rabos, grandes peitos. TV cabo, satisfeitos? eu não, estamos feitos, então! ou Não dances, não te canses, isto não é um ginásio, tás fora do tempo. Toma leva um Casio, aprende mais um pouco e vais saber como fazer os novos movimentos. Fitness não é hip-hop, não inventes vertentes! Fazem dele o dono da música. Ou a sua rima sufocante na Beleza Artificial do Valete Os pensamentos medíocres, que só querem que tu look, todos os dias novos looks. hoje à noite é para o Lux, onde apanhas grandes mocas com vodkas e brocas e tocas em cocas, sufocas, convocas o sexo a quem provocas! que fazem o Bónus e o Valete suspirar de espanto.

Essencialmente o Sam The Kid é para mim um dos melhores músicos portugueses. Não é músico? OK, chamem o que quiserem, continua a ser dos melhores. Dá-me realmente gosto ver outros músicos a apreciarem o seu trabalho, como o Rui Veloso, Vitorino e até mesmo o André Henriques dos Linda Martini. A música de hoje é o clássico. É a que canto com mais vontade, mais agressividade, quando penso nos que o julgam. Samuel és um dos grandes e os outros... Não Percebem!

4 comentários:

  1. tá fixe. Continua com o trabalho, que este blog já está no meu google reader à bué tempo. Abraço ;)

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  2. Eu cá não levo a sério o hip-hop português. Não sei...é algum preconceito que tenho. Mas li o que escreveste e concordo que o Sam realmente dá-se ao trabalho de pensar na música e que as rimas dele não é só "Yeah e tá-se bem e gajas boas e coiso" lol

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  3. Muito bem escrito, gostei mm muito de ler.
    E é claro que STK é músico!
    16/12/95 é mm um conto. Não percebes é clássico.
    E já tou a sacar o Beats Vol. 1!

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  4. É com muito agrado que leio este post, um post tão grande que pensei, "não vou ler esta merda toda", mas li porque gosto de pessoas que pensam como tu.
    Estou cansado de pessoas que me olham de forma estranha quando digo que ouço hip hop tuga.
    Será que o hip hop tuga é so pra chungas, será que é só tiros e facadas, ou será que as pessoas que dizem isso não sabem do que falam e adoptaram essa ideia através de um parvo qualquer que lhes disse isso?
    É impossível ouvir o pratica(mente) e não dizer "fds isto é uma obra-prima", nem falo dos outros dois álbuns, mas o pratica(mente)? Não me lixem!!!
    Eu tenho pena dessas pessoas, que não reconhecem que aquilo é a verdadeira poesia, pode ser suja e dura por vezes, mas é verdadeira e é incrível como em Portugal se dá mais valor a porcarias de musicas como essa nova moda do "ai se te pego" e olhem pra cds como este e digam? Isso é música?
    O sam é dos melhores artistas do nosso pais e é pena muita gente não reconhecer isso, o gajo é um verdadeiro talento, tem rimas geniais, faz beats brutais e é por isso que não é surpresa ele ser o maior nome do hip hop português.
    Tenho pena do português só gostar do que é fraquinho.
    Fiz um comentário quase maior que o teu post, mas a esta hora ou é sono ou revolta ahah

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